“Pensar é desnudar meias verdades
que se vestem de mentiras longas.
A razão é um vestido
cheio de tendências
irracionais.”
(errata feita dia 28 junho 2021)
Posfácio
Amanda Pinho
Em uma aresta do tempo foi dada a tarefa de compor a mais bela poesia, ela deveria ser concreta, sensível, profunda e rítmica. Nessa aresta atemporal não havia passado, não havia referência, não havia modelo, muito menos um objetivo. Ali banhada de possibilidades respirando criatividade a consciência, fonte de tudo, inclusive do nada, permitiu que o corpo assim se poetizasse de vida.
Fez o corpo pra você chamar de seu, esculpiu a casa pra Eu morar com janelas que dão de frente pro amar. Essa casa se ergueu sobre pilares elementais, com paredes feitas de cortinas epiteliais, acolchoadas de gordura pra evitar abalos ósseos. A luz percorreu circuitos nervosos até desaguarem emoções no rio de sangue que banha as células, as verdadeiras arquitetas da existência.
Cinco janelas permitem que a brisa do mundo ecoe pela casa. O tempo invade as paredes e as vezes separa Eu de você. O reencontro só acontece quando no meio do caminho encontramos as pedras de culpa e medo que impedem o fluxo do mundo. Aqui começa a famosa jornada de volta pra casa, a redescoberta do corpo como morada, e que nessa casa vivem muitos Eus.
Criou-se retalhos dessa poesia essencial e soprou cada parte do corpo, cada órgão e cada glândula pra que em uníssono o corpo cantasse a vida. O coração é o regente dessa orquestra cuja a partitura o cérebro desenha, e para que a mais bela harmonia surja um pouco de tensão se faz necessário.
Atenção, não se aperte demais, pois o instrumento sai do tom. Nas tonalidades mais graves sobreviver é nota fundamental, os afetos e as relações fazem nascer um fragmento pra chamarmos de mim. Mim acreditará ser a fonte originária de todo movimento. Esse Mim vai se identificar com a casa, vai nomear, vai registrar como propriedade privada diante de uma vida, totalmente, pública. Mim acha que é dono da casa, ainda não sabe que nada é pessoal. Mas em logos saberás que é tudo sobre nós e não sobre você mesmo.
Depois de sobreviver, se sobrevoa acima dos instintos, avista-se um oceano de aceitações pra ser atravessado ate o firmamento. Nesse oceano com suas emoções afluentes, nada é preciso. O balanço da maré fará testemunha quem não tentar remar contra o amar é. Durante os sentimentos frios, é bom se cobrir de razão.
A coberta mental é costurada de crenças retalhadas que se formam nos atalhos que mim cria pra enganar o tempo. Dos enganos aos ganhos, é na terra que a gente erra. A aceitação é o gesto de encobrir-se com o intelecto, é despir-se do bicho que habita as entranhas pra renascer humano que sabe. Sabe que essa casa um dia padecerá.
A seiva da vida produzida no interior dos tijolos ósseos inunda os tecidos de entusiasmo na direção de uma ação sem motivo, sem pressa, sem objetivo. A casa, desenhada por margens finitas, contém na sua medula o sem fim. Terminamos só porque um dia acreditamos começar.
O que te parece viver sabendo que não há metas? Não há prazos, nem mesmo chegada há. Imagina abrir mão de todos as ideias sobre o mundo e redescobri-lo, hoje, como se fosse a primeira vez em que se abrem as janelas?!
Ao abrirmos as janelas, a alma aspira, o corpo respira e Eu acompanho a vida passar. Passar por mim, passar por você, por nós, ela simplesmente passa, e recria o ser que sabe, sabe que está só de passagem.
Amanda Pinho
(1) Psicoterapeuta de formação e poetiza na essência. Há 9 anos integra o sistema de bodytalk na sua prática de reeducação do pensamento! isnta @anma_ar