Prefácio

Verena Kacinskis[1]

A edição que você tem diante dos seus olhos é especial. Isso porque o Sistema BodyTalk começou aqui, no que hoje chamamos de Ciências da Vida. Acho simbólico que um sistema de cuidado da saúde tenha surgido em seminários cujo foco não era o bem estar dos pacientes mas sim a organização e desenvolvimento internos dos terapeutas. Isto fala muito do BodyTalk em si. Sem auto-observação e autocuidado, como podemos ousar nos dedicar ao cuidado do outro?

Mas John e Esther Veltheim, estudantes de longa data de Jnana Yoga e intensos praticantes da autoinvestigação, sabiam disso. Eles sabem, até hoje, que a organização do mundo interno é parte do processo de autoconhecimento, e que para nos organizarmos é preciso desenvolver a arte da autoobservação. Por isso, ao fundarem o Sistema BodyTalk nos anos 1990, eles começaram por aqui.

Nesta segunda edição do Escuta, você vai encontrar cinco artigos cuja proposta é apresentar a diversidade fenomenológica das Ciências da Vida a partir das perspectivas das autoras e autores.

Em O ciclo do contato, Maria Fontes, terapeuta de BodyTalk, usa sua experiência pessoal para descrever, por vezes de forma poética, a riqueza dessas disciplinas. “Acontece que as dores humanas são múltiplas e complexas”, afirma Maria. E segue: “Cada um de nós reflete um prisma de cores únicas. Por reverberação, sintonia com o diapasão universal ou atração sintonizada com o perfil do nosso curador ferido, a clínica de cada terapeuta irá expressar ou atrair dores humanas similares àquelas que já nos foram possível enxergar, observar e avançar na cura. É nesse ponto, na perspectiva de abraçar o curador ferido de cada terapeuta que, generosamente, encontramos no Sistema BodyTalk as Ciências da Vida.”

Ciências da Vida é uma família de cursos vivenciais formada pelo MindScape, BreakThrough e Freefall. “Cada um desses é em si um conjunto de técnicas, um espaço para processos terapêuticos e também, uma ferramenta de suporte pessoal e para a prática profissional.”, nos explica Maria.

Em Ciências da Vida do BodyTalk, autodescoberta e o apreço por perguntas significativas, outro artigo cuja proposta é apresentar as três disciplinas a partir de uma experiência pessoal, a autora, Adriana Camilo, também terapeuta do Sistema BodyTalk, reflete sobre a contribuição das Ciências da Vida em sua trajetória: “Viver a vida como prática: reconhecer-se Ser. Não como um caminho para aprimorar-se e tornar-se a referência idealizada de si mesmo, mas como processo de despojar a força e poder que atribuímos a nossas crenças, aos julgamentos sobre como devemos ser e sobre como a Vida deve ser, para receber, perceber, processar e cocriar a Vida no aqui agora, na medida em que o viver simplesmente acontece.”

Adriana nos lembra que “Compartilhar as Ciências da Vida e convidar clientes a participar destes cursos é também uma maneira de estimulá-las(os) na apropriação do caminho de autoconhecimento.”

Seguindo por esta linha de pensamento (e sentimento), Myriam Machado, terapeuta de BodyTalk, nos guia pelos caminhos do FreeFall, disciplina das Ciências da Vida da qual ela é facilitadora. “John Veltheim criou o método FreeFall depois de observar o quanto as constrições criadas por nossas próprias histórias sobre autoimagem e amor próprio – e a carga negativa expressa em nossas roupas – podem perturbar não apenas o equilíbrio físico, mas também mental, emocional e energético. O principal objetivo do método FreeFall é que você possa celebrar a liberdade de Ser Humano.”

Saindo do FreeFall e caminhando em direção a outra disciplina, a própria Esther Veltheim, que idealizou e refinou os 7 passos de autoquestionamento do BreakThrough[2], nos relembra, em seu artigo Questionamento e o processo espiritual, que “nunca houve um tempo em que os seres humanos estivessem mais necessitados de aprimorar a habilidade de questionar” do que agora.

Por último, em MindScape como potencial caminho, Celso Juc e Angie Tourani, ambos instrutores de MindScape, e Carlos Bueno, terapeuta de BodyTalk e assíduo praticante das técnicas do MindScape, discutem, com mediação de Nirvana Marinho e tradução de Adriana Camilao, o uso do MindScape como ferramenta de autoconhecimento. Minha citação favorita desta conversa vem do Carlos Bueno: “MindScape e BodyTalk são geniais e ilimitados. A limitação deles é o praticante.”

Acredito que o autoconhecimento e a organização de nosso mundo interno ultrapassam o campo pessoal e funcionam como ferramentas de organização do coletivo. Não é possível construir uma sociedade saudável se os seus indivíduos estão doentes. Por isso, costumo dizer que o autoconhecimento é um trabalho, quase uma obrigação, social. A autonomia emocional adquirida depois de um fim de semana construindo uma intuição mais estruturada no MindScape ou investigando gatilhos emocionais no BreakThrough é algo que não se perde. Cada insight adquirido, permanece. E cada trabalho interno reverbera no campo familiar, profissional, social e político do indivíduo.


[1] VERENA KACINSKIS é psicóloga, Adv. CBP, CBI e pesquisa as várias formas humanas de se expressar. Produz cursos e conteúdos sobre a calma que surge quando organizamos nosso mundo interno em verenakacinskis.com e fala sobre receitas com plantas + intuição no projeto Minha Cozinha Virou Um Jardim.

[2] Depois da escrita deste Prefácio um novo artigo foi adicionado a esta edição, escrito por Salima J. Lara Resende (ERRATA) e embora não conste do presente texto, também sobre o BreakThrough, faz parte desta edição igualmente. (N.E.)

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(link atualizado em maio 2021)