Revolução dos tempos do coração

12 julho 2024

E aí, amada… 

Te escrevo em um período embaralhada pelo tempo. Entre nossas cartas a vida andou jogando as suas próprias. Rs. 

Bem, o Dia dos Namorados passou, mas o amor ainda está pelo ar, embora vez em quando seja colorido por outros sentimentos não tão leves. 

Querida, sua dança com o desejo foi de uma preciosidade exuberante, a psicanálise está fazendo efeito, haha. Por falar nisso recentemente assisti um documentário que contava a história da influência da psicanálise na formação da mentalidade consumidora norte-americana e inglesa. Freud teve um sobrinho que usou a teoria psicanalítica para criar um modelo de negócios a partir da manipulação dos desejos inconscientes das massas. Ao longo do tempo isso foi usado por grandes corporações e também por governos para domesticar consumidores e cidadãos. 

O que eu tenho desejado, ultimamente, é sobriedade para tocar a realidade. Sinto muito que esta carta não venha recheada de doçura, tenho buscado uma interlocução entre política e psicologia e as arestas por lá são pontiagudas e o saber é amargo. 

Este momento de fechamento da nossa 10 edição me trazem diversas reflexões, e para não divagar demais tentarei com vagar, rs, partilhar esse trajeto percorrido. 

Quando conheci o bodytalk eu estava mais ou menos no meio da graduação em psicologia, me sentia frustrada com o modelo acadêmico e com a minha falta de habilidade para corresponder com a expectativa de ser uma graduanda. Esse sentimento me levou a buscar fora da faculdade as respostas que eu não tive paciência para encontrar dentro da psicologia. Essa escapada para o universo holístico das terapias integrativas me proporcionou muita vivência e um contato maior com o imaginário simbólico da nossa gente, brasileiros e brasileiras que recorriam a alternativas ao bem-estar social. Como tendemos a importar dos estados unidos nossos modelos, nesse contexto não haveria de ser diferente, importamos de lá essa ideia de que produtos preencheriam nossos vazios emocionais e as coisas poderiam nos dar uma identidade.

O que percebo, amada, é que essa alternativa ao bem-estar social que consumismo é despolitizante, somos levados pela lógica individualista a sanar nossas nhacas individuais sem refletirmos nas questões sociais atreladas a elas, e com o povo despolitizado o tal do mercado governa nossas existências, e o bem-estar jamais será prioridade numa corrida pelo lucro. 

Hoje eu retornei para a academia, reencontrei a psicologia e desejo poder fazer uma costura entre as minhas vivencias pessoais, minhas reflexões intelectuais e minha sensibilidade poética. Quem sabe contribuir com a discussão para reacender o estado desejante no Estado brasileiro. O desejo pelo bem comum, pela saúde da população, pela felicidade do povo, pela realização espirituosa da nação, a realização da nossa humanidade. 

Mesmo a atmosfera sendo angustiante eu tenho esperança na potência da nossa gente. Dos nossos desejos. Desejos de desenvolvimento, de progresso e de conservação. Temos uma história linda de miscigenação, de encontros culturais… desejo que isso não seja perdido nos escombros temporais. 

Minha amiga, querida, fechamos essa partilha na 10 edição, e eu te agradeço imensamente pelo convite, por ter soprado essa chama desejosa por escrever, por compartilhar as angústias, as poesias, as ideias, as visões… esse projeto é muito bonito e eu desejo que ele frutifique os ouvidos, os corações e os olhos de quem passar por aqui. 

Desejo muitas aventuras nos projetos que tens cultivados, és uma mulher muito potente. Eu me despeço aqui desejosa por um reencontro logo mais ali adiante. Que possamos cultivar nossos desejos de cooperação e saibamos conduzir nossos desejos destrutivos de uma forma a contribuir com as infinitas reconstruções do caminhar. 

Estejamos atentos e disponíveis para sorrir ao menor sinal de florescimento. 

Beijos e sorrisos

Amanda


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *