Escuta como uma revolução de si

Nirvana, amada … 

Uau, que incrível essa retrospectiva que trouxeste. Depois dos passos dados tem um sabor diferente olhar para trás e perceber as pedras que ficaram pelo caminho. Foi uma jornada cheia de subidas e descidas, né?! Imagino que para todos que estavam com os olhos minimamente abertos, todos esses episódios pareciam ter um convite nas entrelinhas. Algo precisava mudar! Mas se quisesse permanecer do mesmo jeito também podia, mas seria arrastada pelas ondas que se formavam a partir dos abalos das profundezas do nosso inconsciente. 

Passar esse período aqui na Escuta com todas vocês teve um gosto de colo. Eu pude me escutar, pude perceber através da escrita alguns gritos silenciosos que corriam pelas minhas veias. E pude finalmente escutar quem corre do meu lado. É um pouco aquela logica da máscara do avião, primeiro a gente coloca na gente para depois ajudar o outro. Primeiro a gente se escuta, para depois ser capaz de ouvir o outro. 

E que coisa difícil essa de se escutar, mulher!

Parece uma coisa simples, basta ter ouvidos, dirão alguns. Mas a verdade é que escutar é bem diferente de ouvir. Assim como você passei por muitas transformações nesses últimos anos, e pra te ser sincera, estou adorando essa minha nova versão, ou seria a velha versão que se perdeu em algum momento pelo caminho e agora reencontrei? De qualquer sorte isso não significa que o meu entorno também tenha mudado. E isso tem gerado alguns atritos perceptivos. Estar com algumas pessoas, ou em alguns lugares parecem ir perdendo cada vez mais o sentido, e surge um novo desafio de me recolocar no mundo. Quase como uma adolescência tardia, preciso encontrar minha tribo. 

Mas não somos mais adolescentes e a vida também parece saber disso, rs. As circunstâncias aparecem e não nos cabe mais agir de maneira irresponsável. Esse é o destino da análise, a mudança de atitude. E não me refiro aqui a algo simples não, porque é tão mais fácil repetir os mesmos padrões e se vitimizar diante dos mesmos resultados. 

Essa mudança de atitude envolve um jeito diferente de tocar a vida e de também ser tocada por ela. A música da vida é a mesma, mas parece que a pista de dança se alargou e os pés estão mais firmes e mais criativos. Não é mais necessário repetir os mesmos passos. 

Quando convidaste a falar do toque muitas coisas me vieram a mente, a começar pelo curso que estou lecionando de anatomia palpatória. É muito divertido brincar de enxergar com as mãos as estruturas do corpo. Identificar as sensações que um musculo gera, um osso, um tendão, e quais as possibilidades de manipulação essa sensação permite. Poderia escrever por horas a respeito dessas nuances. Mas quero me ater a uma coisa que me fascina muito. Falo da capacidade da nossa pele, que está na superfície do corpo, revelar o que guardamos nas nossas profundezas. 

Não é incrível essa dicotomia? 

Como pode uma pele da face me contar o tipo de emoção que a pessoa mais sente? Ou que tipo de atenção aquele corpo recebe. As linhas de expressão, as marcas, as tatuagens, os sintomas, tudo isso é tão revelador. Além disso a pele ser o elo entre o dentro e o fora, o eu e o outro, a torna mesmo algo imensamente fascinante. 

Por vezes ela também ilude viu?! Basta pensarmos nela como embalagem. Não é garantia da qualidade do quem tem dentro. É preciso tocar com bastante atenção e ler as entrelinhas da composição. Pode ser um produto com alto teor de narcisismo.

Feito essa ressalva, vamos ficar no fascínio de tocarmos almas ao tocarmos peles. Seja na circunstância de um atendimento terapêutico ou mesmo nas caricias de nossa intimidade, tocamos mais que a pele. 

E para mim estamos desperdiçando nosso tato deslizando por telas ao invés de construir novos elos e novos atos.

Que estas breves palavras a encontrem bem, amada! 

Com carinho, Amanda.


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