A morte de mim

The Death of “me”

Terryann Nikides 1

Tradução Ana Carolina Vasconcelos e Natasha Mesquita 2

At 11 years old my Grandmother’s brother, a tall, strong, handsome man of only 48 years old, came to visit. I sensed something was wrong. My Grandmother and Mother were not home. He left. My Mother arrived to find me panicking. She said she would see him later. I was not relieved. 

Aos 11 anos de idade, o irmão de minha avó, um homem alto, forte e bonito de apenas 48 anos veio nos visitar. Eu senti que algo estranho estava no ar. Minha avó e minha mãe não estavam em casa. Ele foi embora. Minha mãe chegou e me encontrou em pânico. Ela disse que iria encontrá-lo mais tarde. Mas eu não fiquei aliviada.

The moment is frozen in my mind. My bedroom was next to where the green rotary phone was kept. It was ringing in the wee hours of the morning. My Mother picked up the phone. Her voice said: “What? What happened?” I knew he was gone. I had known it all day that this was the feeling of loss, death’s smell permeated the air, even before it happened. She continued: “A car accident? He is dead!” I lay in bed crying, my chest heavy with loss. Not only the loss of my uncle but the loss of childhood and the fleeting moment where I might have warned him. 

Esse momento congelou na minha mente. Meu quarto ficava ao lado de onde ficava o telefone verde da casa. Ele estava tocando nas primeiras horas do dia. Minha mãe atendeu e disse: “O quê? O que aconteceu?” Eu sabia que ele tinha morrido. Ao longo do dia inteiro eu sabia que esse era a sensação de perda, o cheiro de morte estava permanentemente no ar, mesmo antes de acontecer. Ela continuou: “Um acidente de carro? Ele está morto!” Eu deitei na cama chorando, meu peito estava pesado de luto. Eu não tinha apenas perdido meu tio, mas tinha perdido a infância e o momento fugaz em que eu poderia tê-lo avisado. 

Not only was my Mother’s family impacted by the loss of my Uncle but my Father had his own story of grief to transmute. My Father’s Father died, at 48, when my Father was only 6 years old. My Great Uncle and Father had become dear friends. My Great Uncle’s death was at the exact same age as my Grandfather’s! I grieved for my Father’s loss of both men in his life.

Não só a família da minha mãe estava impactada com a morte do meu tio, mas meu pai também estava transmutando sua própria história de luto. Meu avô paterno morreu aos 48 anos, quando meu pai tinha seis anos de idade. Meu tio e meu pai, então, se tornaram amigos íntimos. A morte do meu tio foi na mesma idade que a do meu avô! Eu sofri pela perda do meu pai, dos dois grandes homens de sua vida.

At this point in life I began to prepare myself for the death of my grandparents. We lived in the same home. They seemed to me old at my young age, of course they were not. They had many years to live. But I was driven to prepare for their death at the tender age of 11.

Neste momento, eu comecei a me preparar para a morte dos meus avós. Nós morávamos na mesma casa. Eles pareciam velhos para mim na minha tenra idade, mas obviamente não eram. Ainda tinham muitos anos pela frente. Mas eu fui levada a me preparar para a morte deles aos meus 11 anos.

As I passed through the death of childhood and teen years subsequently born into young adulthood, fantastical notions of life died as well. Death as a finality became fodder for birth. Awareness of death made its way into my daily life, including the death of how I used my intuition.

Tendo passado pela morte da infância e adolescência e dez anos depois renascido na vida adulta, noções fantásticas sobre a vida morreram também nesse processo. A morte como finalidade tornou-se estofo para o renascimento. A consciência de mortalidade fez seu próprio caminho em minha vida, incluindo a morte de como eu usava a minha intuição.
The use of intuition had, since 3 years old, been limited to: “If I knew something was going to happen then I could prevent it.” My intuition and the death of my uncle rigidified the notion that “I could control an outcome.” Life clearly demonstrated that this was not possible. 

O uso da intuição, desde os três anos de idade, estava limitado a “se eu soubesse que algo estava para acontecer, eu iria preveni-lo”. Minha intuição e a morte do meu tio enrijeceram a minha noção de que “eu poderia controlar um resultado”. A vida claramente me demonstrou que isso não era possível.

In my 20’s I began meditating for 8 hours a night and practicing different forms of manipulating my intuition, such as Silva’s Method of mind control and channeling. My greatest nemesis was the mind’s contents: “thoughts”. The greatest suffering I experienced was in my thinking. I mistakenly thought that I could resolve each conflict in my mind with opposing thoughts. What resulted was further conflicting thoughts! 

Pelos meus 20 anos, comecei a meditar por oito horas a noite e praticar diferentes formas de manipular minha intuição, como o Método Silva de controle mental e canalização. Meus maiores inimigos eram os conteúdos da mente: os pensamentos. O maior sofrimento que eu experimentei estava nos meus pensamentos. Eu erroneamente pensava que eu poderia resolver todos os conflitos na minha mente com pensamentos opostos. O resultado foram pensamentos conflitantes ainda mais profundos!

I kept thinking: I need to die to the old thinking, to the old me. Then and only then will I be free. But how?

Eu seguia pensando: preciso morrer para esta antiga forma de pensar, esse velho eu. Só assim e apenas assim eu estarei livre. Mas como?

In one of the moments, wherein I melodramatically felt pity for myself, falling deeper and deeper into desperation, something alchemical occurred. I saw clearly what needed to be done. I was to meditate on DEATH. Each day I was to awaken to: “today is my last day”. My first experience was alleviation of conflict. 

Em um desses momentos, quando eu melodramaticamente senti pena de mim mesma, entrando mais e mais no desespero, algo alquímico aconteceu. Eu vi claramente o que precisava ser feito. Eu precisava meditar sobre MORTE. A cada dia, eu deveria acordar para: “hoje é o meu último dia”. Minha primeira experiência foi o alívio de conflitos.

At the time I was working in the family business. It was a very hard time. I had been inexplicably fainting for 5 years. It had become quite dangerous. I had fainted, smashing my face on a steel bar, fallen under a moving bus, and been found at an elevator with the doors opening and closing on me. 

Neste momento, eu estava trabalhando nos negócios da minha família. Foi um momento muito difícil. Eu tive episódios inexplicáveis de desmaios por cinco anos. Tornou-se bastante perigoso. Eu havia desmaiado, batendo meu rosto em uma barra de metal, caí sob um ônibus em movimento e fui encontrada em um elevador com as portas se abrindo e fechando batendo em mim.

After a few years of meditating on death. As a result the death of the concept of “me” was birthing. I awoke without the need to outperform the previous day to please my Father. I awoke without the need for security. I awoke without the NEED for anything. The single day marked my resignation from the family business and stopped fainting entirely. 

Após alguns anos meditando sobre a morte, como resultado, a morte do conceito sobre o “Eu” estava nascendo. Eu acordei sem a necessidade de superar a performance do dia anterior só para gratificar meu pai. Eu acordei sem a NECESSIDADE de segurança. Eu acordei sem a necessidade de nada. Em um único dia, ficou marcante a minha renúncia aos negócios da família e parei de desmaiar completamente.

In one fell swoop my old life, the old notions of “me” died and something new was born: adventure. Life had become real unimpeded by delusions of “what if”. The past chimeras were exposed to sunlight to be disinfected.  

De uma vez só, minha velha vida, as velhas noções de “eu” morreram e algo novo nasceu: aventura. A vida havia se tornado real, desimpedida por delírios sobre “e se”. As quimeras anteriores foram expostas à luz do sol para serem desinfectadas.

I continued to meditate daily on death. I lived every day as though it was my last. After years of practice what became evident was that I had not killed the concept of “me”. The “me” concept continued to plague my mind. In my teen years, I would dramatically tell my Mother I wanted to kill myself. In my melodrama I omitted telling her it was my mind’s concept of myself that I wanted to die not my Self! Ah the drama of a Greek teenager. 

Continuei meditando diariamente sobre morte. Vivi todos os dias como se fosse meu último dia. Depois de anos de prática, o que ficou evidente foi que eu não tinha matado o conceito do “Eu”. O conceito “Eu” continuou atormentando minha mente. Na minha adolescência, eu teria contado dramaticamente a minha mãe que eu queria me matar. No meu melodrama, eu omiti dizer a ela que eram os meus conceitos mentais sobre mim que eu queria que morressem, não eu mesma. Ah, o drama grego de uma adolescente!

As I approached my 40’s I had been an energy practitioner for several years. What struck me most was the ubiquitous focus on symptomatology, rather than the “source” of symptoms. The mind and its contents takes precedence over the complexity of multiple sources of apparent symptoms. The mind’s inability to grasp paradoxical sources of a symptom ONLY focused on the symptom. The attending to a symptom precludes the capacity to be present to “what is” but focuses on “what isn’t”.  This harkens back to my childhood thinking that “If I knew something might happen then I could control the outcome.” Horizontal thinking clearly omits the complexity of life. For example, as a child, if I knew a relationship would ultimately not work out then I should help prevent the relationship. The latter presumes that life, death and rebirth should be eliminated. Stilted, neurotic, childish thinking cannot bear the complexity of a relationship such as: children will be born to the couple, the good times and bad times, the love and hate, the new awareness’, death of old patterns, the birth of learning, exploring and adventure. All part of the journey. 

Me aproximando dos 40 anos, eu já era uma terapeuta energética há alguns anos. O que mais me impressionou foi o foco onipresente na sintomatologia e não na “origem” dos sintomas. A mente e seus conteúdos precede a complexidade de múltiplas origens dos sintomas aparentes. A inabilidade da mente de pescar as fontes paradoxais de um sintoma nos leva a focar APENAS e exclusivamente no sintoma. Atender a um sintoma impede a capacidade de se estar presente no “o que é” e foca no que “não é”. Isso me leva de volta aos pensamentos da minha infância, “se eu soubesse que algo poderia acontecer, então eu podia controlar seu resultado.” Pensamentos horizontais claramente omitem a complexidade da vida. Por exemplo, quando criança, se eu soubesse que uma relação poderia não funcionar, então eu deveria evitar a relação. Presume-se que a vida, a morte e o renascimento deveriam ser eliminados. O pensamento afetado, neurótico e infantil não pode suportar a complexidade de relações como as seguintes: filhos que nascem para o casal, os bons e maus momentos, o amor e o ódio, o novo despertar, a morte de antigos padrões, o nascimento de um aprendizado, explorações e aventura. Tudo faz parte da jornada.

Horizontal, linear, neurotic thinking tries to eliminate the journey and witnesses ONLY on the symptom, in this case, the relationship will ultimately not work. Of course prognostication, running around like Cassandra yelling “Troy” is burning, has rarely catalyzed transformation. Ultimately, living life without death is anathema to living life. I finally awakened to the journey. Death will come to everyone and everything as it is the nature of life. 

O pensamento horizontal, linear e neurótico tenta eliminar a jornada e testemunha apenas o sintoma, neste caso, a relação em última análise não irá funcionar. Claro que a prognosticação, correr de um lado pro outro como Cassandra gritando “Tróia está em chamas!”, tem raramente catalisado alguma transformação. Em última análise, viver a vida sem a morte é uma anátema a própria vida. Eu finalmente acordei para a jornada. A morte irá aparecer para todos e para tudo ela é a natureza da vida. 

Despite my realization that the journey was all there is, I did not like, to say the least, the part of the journey that contained mental conflict. It all came down to the concept of what I thought was “me”. The massively agonizing addiction to my thoughts. Of course, at the time, I only wanted the concept of “me” to die without the awareness of my identification with the contents of my mind. 

Apesar da minha realização sobre a jornada ser tudo o que existe, eu não gosto, para dizer o mínimo, da parte da jornada que contém conflitos mentais. Tudo se resumia ao conceito do que eu pensava ser “eu”. O vício massivamente agonizante com os pensamentos. Claro que, nesse momento, eu apenas queria que o conceito do “eu” morresse sem ter consciência da minha identificação com os conceitos da minha mente.

My journey took me to a BreakThrough course with the founder Esther Veltheim. Throughout the class I grieved as the “me” concept began its death rumble. I had not yet been reborn, though, the pleasure I experienced whilst I grieved, not for the loss of the “me” concept, but a lifetime of grief caused by the “me” concept, was profound. 

Minha jornada me levou ao curso de BreakThrough com a fundadora da técnica Esther Veltheim. Ao longo da aula, me entristeci na medida em que o conceito do “eu” iniciou sua morte estrondosa. Eu não havia renascido, porém, o prazer que eu experimentei enquanto me enlutava, não pela morte do conceito do “eu”, mas pelo pesar de uma vida causado pelo conceito do “eu”, foi profundo.

I quickly became a BreakThrough Instructor, during this time I have described BreakThrough as the French describe an orgasm; “le petit mort”. Each time the “me” concept loses its grip a little piece of the old dies to be reborn into the adventure of life. Or as Esther Veltheim describes it: “breaking the spell of the mind.” 

Eu rapidamente me transformei em uma instrutora de BreakThrough. Naquele tempo descrevi o BreakThrough como o francês descreve o orgasmo: “a pequena morte”. Cada vez que o conceito do “eu” perde o controle, um pequeno pedaço do velho morre para renascer na aventura da vida. Como Esther Veltheim descreve: “quebrando o feitiço da mente”.

It took many years for the spell of the mind to break. Of course the complexity of the human psyche and my unconscious involvement continues to be part of my journey. It will continue until it too dies and something new is born. For the present, what has been born is my awareness of each moment, that heretofore gone unnoticed, and its concomitant grief, then the joyous birth of the next moment. This cycle repeats ever and always till I am no longer.

Levou muitos anos para o feitiço da mente quebrar. Claro que a complexidade da psique humana e meu envolvimento inconsciente continuam sendo parte da jornada. E continuará até que eles mesmos morram e algo novo renasça. Neste momento presente, o que renasceu foi minha consciência de cada momento, que até então passava despercebida e a sua dor concomitante, para enfim, sentir o alegre renascimento do momento seguinte . Este ciclo se repete sempre e para sempre até eu não existir mais.

1

B.A.Psych. SrBrI, BrI, ParBP, CBP, Reiki Master, SRI, Tarot Mastery

Bacharelado em Psicologia, Instrutora de BreakThrough Senior, Instrutora de BreakThrough, Terapeuta Certificada de BodyTalk, Instrutora Senior e mestre em Tarot.

www.leurbanretreat.com

2 Co-editoras da Revista Escuta. NT: optou-se por manter o texto em inglês e português.

“Texto encomendado e cedido à Revista Escuta (5a edição) e publicado também

na Newsletter da Associação Internacional de BodyTalk (IBA, outubro 2021)”